quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Histórico


O Senhor produziu da terra os medicamentos; o homem sensato não os desprezará, aconselha o Eclesiástico, 39, 4; no entanto, muito antes desta alusão no texto sagrado à fitoterapia, ou medicação pelas plantas, já fora criado, divulgado e transmitido, entre as mais antigas civilizações conhecidas, o hábito de recorrer às virtudes curativas de certos vegetais; pode afirmar-se que se trata de uma das primeiras manifestações do antiquíssimo esforço do homem para compreender e utilizar a Natureza como réplica a uma das suas mais antigas preocupações; a que é originada pela doença e pelo sofrimento. É admirável que todas as civilizações, em todos os Continentes, tenham desenvolvido, a par da domesticação e da cultura das plantas para fins alimentares, a pesquisa das suas virtudes terapêuticas. Mas é talvez ainda mais admirável que este conjunto de conhecimentos tenha subsistido durante milênios, aprofundando-se e diversificando-se, sem nunca, porém, cair totalmente no esquecimento. A utilização das propriedades do ópio obtido da dormideira ( Digitalis lanata ), 4 mil anos antes de se conhecer o processo de extração da morfina, é, sob esse ponto de vista, bem significativa da perenidade destes conhecimentos, que durante muito tempo permaneceram empíricos, e que, desde há alguns séculos, o processo das ciências modernas tornou mais rigorosos. Mesmo atualmente, apesar do espetacular desenvolvimento da quimioterapia, a fitoterapia continua a ser muito utilizada, readquirindo até um certo crédito desde que foram divulgadas as conseqüências, por vezes nefastas, do abuso dos compostos químicos. Para se ter uma visão de conjunto do progresso dos conhecimentos humanos referentes às plantas medicinais, devem distinguir-se 3 grandes períodos. Durante as Antigüidades Egípcias, Grega e Romana acumulam-se numerosos conhecimentos empíricos que serão transmitidos, especialmente por intermédio dos árabes, aos herdeiros europeus dessas civilizações desaparecidas. Finalmente no final do século XVIII, o progresso muito rápido das ciências modernas veio enriquecer e diversificar em proporções extraordinárias os conhecimentos sobre as plantas, os quais atualmente se apoiam em ciências tão variadas como a Paleontologia, a Geografia, a Citologia, a Genética, a Histologia, e a Bioquímica. Também podemos observar o conhecimento progressivamente adquirido das regras de dosagens específicas para cada droga; esta prática ampliou-se ao fabrico e à administração de todos os remédios e pode-se afirmar que nasceu assim a receita médica e a respectiva posologia. Estes conhecimentos médicos iniciados no antigo Egito, divulgaram-se nomeadamente na Mesopotâmia. Em 1924, o doutor Reginald Campbell Thompson, do Museu Britânico, conseguiu identificar 250 vegetais, mineiras e substâncias diversas cujas virtudes terapêuticas, os médicos Babilônios haviam utilizado, especialmente a beladona, administrada contra os espasmos, a tosse e a asma; os pergaminhos da Mesopotâmia mencionam o cânhamo indiano, ao qual se reconhecem propriedades analgésica que se receita para bronquite reumatismo e insônia. O longo período que se seguiu no Ocidente, a queda do Império Romano, designado universalmente por Idade Média, não foi exatamente uma época caracterizada por rápidos progressos científicos. Os domínios da ciência, da magia e da feitiçaria, tendem freqüentemente a confundir-se; drogas como meimendro-negro, a beladona e a mandrágora, serão consideradas como plantas de origem diabólica. Assim Joana d Arc será acusada de atormentar os ingleses pela força e virtude mágica de uma raiz de mandrágora escondida sob a couraça. Contudo não é possível acreditar que na Idade Média se perderam completamente os conhecimento adquiridos durante os milênios precedentes. O desenvolvimento das rotas marítimas coloca efetivamente a Europa no centro do mundo, os produtos dos países longínquos abundam e entre eles as plantas até aí desconhecidas, com virtudes por vezes surpreendentes os conquistadores suportaram eles próprios a experiência das propriedades mortais do curare; a casca de quina é utilizada para baixar a temperatura nas febres palúdicas muito antes de se ter conhecimento de como dela se extrair a quinina; a América dá ainda a conhecer as virtudes anestésicas e estimulantes da folha de coca. No encalce dos descobridores prosseguem os exploradores, missionários como o padre Plumier, botânicos como Tournefort, que, em 1792, regressa do Oriente com 1356 plantas então desconhecidas na Europa. Finalmente, os esforços de classificação culminam em 1735 com a publicação do SYSTEMA NATURAE, de Lineu. O grande naturalista sueco adota como princípio de distinação e classificação a distribuição dos órgãos sexuais nas flores e as características dos órgãos masculinos, os estames. Para ele, os dois grandes ramos em que se divide o reino vegetal são o das Criptogânicas, em que os estames e o pistilo são invisíveis a olho nu, e o das Fanerogâmicas, em que estes são visíveis. Dentro destas últimas, por sua vez, estabelecem-se 23 classes, segundo critérios morfológicos. Depois de Lineu, os trabalhos dos irmãos Jussieu, Josseph, Antoine e Bernard, bem como os de seu sobrinho, Antoine Laurent de Jucieu, desenvolveram ulteriormente a botânica descritiva e contribuiram para o aperfeiçoamento da classificação sistemática, sem terem esgotado todas as suas possibilidades. Se fizer uma retrospectiva do caminho percorrido desde as primeiras receitas conhecidas da época da sexta dinastia Egípcia, verificar-se-á que foi uma longa caminhada; contudo, comprovar-se-á que ela sempre se desenvolveu na mesma direção, sem mudanças radicais. O catálogo das plantas medicinais enriqueceu-se, a descrição das características dos simples e a indicação de suas utilizações foram aprofundadas, a classificação das suas espécies foi feita com base científica. A medicina pelas plantas: um longo percurso que não está ainda próximo do fim...